A Festa do Vinho do Cartaxo 2025 decorreu de 30 de abril a 4 de maio, no Pavilhão Municipal de Exposições, e voltou a afirmar-se como um dos eventos interessantes da Região do Tejo.
De entrada livre, esta celebração reuniu enólogos, produtores, gastrónomos e famílias inteiras à volta do vinho e das tradições locais, num ambiente festivo e educativo.
Uma experiência vivida de perto
Estive presente na Festa do Vinho do Cartaxo este ano e, para minha surpresa, o evento foi muito mais do que uma simples mostra e prova de vinhos regionais.
Logo à entrada, deparei-me com uma ampla variedade de produtos artesanais — desde peças em madeira e tecido até acessórios relacionados com o vinho, como saca-rolhas de design original, suportes decorativos para garrafas e diferentes opções de embalagens, tanto para oferta como para consumo pessoal.
Enquanto explorava os expositores, era impossível não sentir o aroma da madeira recém-trabalhada ou admirar a dedicação de quem ali vendia objetos feitos à mão, peças únicas que refletem a identidade do Ribatejo. Senti-me verdadeiramente envolvido no espírito local.
O que trouxe a Festa do Vinho do Cartaxo 2025
Com uma programação variada, a Festa do Vinho do Cartaxo destacou-se pela conjugação entre mostra e venda de vinhos, provas comentadas, showcookings e muita animação cultural. Além dos vinhos, o evento ofereceu:
- Artesanato e produtos regionais;
- Acessórios para vinho (saca-rolhas, embalagens, suportes);
- Concertos e performances ao vivo;
- Tasquinhas com gastronomia tradicional harmonizada com vinhos locais.
Ao lado do pavilhão principal, foi montado um espaço com palco e zona de restauração.
Tal como em muitos festas portugueses, o ambiente era de festa: música animada, boa comida, copos cheios e, sobretudo, boa disposição.
Vi famílias inteiras e grupos de amigos a circular entre os stands, a conversar e a saborear vinhos como quem partilha uma herança comum.
Masterclass com Hernani Magalhães: aprender a sentir o vinho
Um dos pontos altos do evento foi a masterclass dirigida por Hernani Magalhães, enólogo da casa Vinhos Franco, centrada na harmonização do vinho tinto Cabernet Sauvignon com carne de porco. A sua intervenção foi marcada por um tom informal e pedagógico:
“Ora, boa tarde a todos. Eu sou o enólogo dos Vinhos Franco, que se chama Hernani Magalhães. E é mais uma vez um prazer estar aqui convosco para falar dos Vinhos Franco, mas para falar também de gastronomia. E gastronomia de uma maneira que eu gosto, que é falar do território, falar do património.”
Com um discurso fluido, Hernani partilhou não só o seu conhecimento técnico, mas também a sua paixão pela enologia e pela ligação entre o vinho e o lugar onde é produzido:
“Nós escolhemos para analisar o Cabernet Sauvignon. […] A nossa região presta-se bem a castas internacionais. A viticultura é relativamente fácil. Produzimos boas uvas ano após ano, o que nos permite fazer vinhos com personalidade. Aquilo que os franceses chamam de terroir.”
O enólogo não hesitou em partilhar orientações práticas:
“Peço-vos só para não estarem sempre a agitar o copo. Porque entretanto os aromas vão-se embora e quando tiver alguma coisa para vos dizer sobre o vinho, vocês já não vão sentir nada.”
Falando sobre a prova em si, Hernani destacou:
“Podem cheirar com o copo parado. Inspirar. E depois, a sentá-lo. Voltar a cheirar, sentir os aromas que ele tem. […] Vão sentir uma coisa que é talvez o descritivo mais comum nos Cabernets — a pirazina. É aquele aroma que associamos aos pimentos verdes, como os que assamos com a sardinha.”
A escolha da harmonização foi ousada, conjugando frescura e intensidade:
“Vamos ter sensações de frescura, não só dos coentros, mas também do limão. E às vezes pensa-se nisto para uma harmonização com brancos. Mas nós gostamos de desconstruir um bocadinho as ideias feitas. Daí trazemos aqui um vinho tinto.”
A masterclass culminou com uma reflexão sobre educação sensorial:
“Quando tiverem perante outro vinho com Cabernet, eu garanto-vos que vocês vão conseguir distingui-lo. Esta foi a nossa ideia: mostrar a personalidade de cada casta. A partir daqui, vão poder brilhar um bocadinho nos jantares de família ou com amigos.”
Mais do que um festival
A Festa do Vinho do Cartaxo 2025 demonstrou que eventos vínicos podem ser autênticas escolas de cultura e tradição. As masterclasses mostraram-se uma aposta certa, aliando conhecimento à experiência sensorial.
“O vinho é isso mesmo: liberdade, gosto e descoberta.” – comentou um visitante à saída de uma prova.
Impacto e identidade
Depois de o Cartaxo ter sido eleito “Cidade do Vinho 2024”, esta edição reforçou a ligação entre o território e o seu património.
A valorização dos produtores locais e das tradições foi evidente em cada detalhe. O evento consolidou o Cartaxo como um ponto de encontro entre enologia, cultura e gastronomia.
Como diz o provérbio – “Quem bebe vinho, conta histórias.” E no Cartaxo, histórias não faltaram.
