Portugal é pequeno em território, mas gigante em diversidade vitivinícola. Existem mais de 250 castas autóctones, muitas delas únicas no mundo, adaptadas a terroirs muito específicos. Esta riqueza faz com que cada garrafa seja mais do que vinho: é história, cultura e identidade.
Neste guia de castas portuguesas, reunimos as variedades mais importantes para os vinhos portugueses e para alguns dos ícones nacionais, como o Vinho do Porto, o Moscatel de Setúbal, o Vinho da Madeira e etc.
Castas Tintas Portuguesas
Touriga Nacional
Considerada a jóia da coroa das castas portuguesas, nasceu no Dão mas espalhou-se por todo o país. Pouco produtiva, mas de qualidade excecional, origina vinhos intensos e longevos.
- Área plantada: cerca de 7% da vinha nacional.
- Regiões: Dão, Douro, Alentejo, Bairrada, Lisboa.
- Descrição: pele grossa, cor profunda, baixa produtividade mas enorme potencial qualitativo.
- Perfil aromático: frutos silvestres, violetas e notas florais intensas.
- Estilo de vinho: encorpados, equilibrados, com grande capacidade de envelhecimento; essenciais no Porto e em vinhos de mesa premium.
Touriga Franca
A mais plantada do Douro, é a base dos grandes lotes de Porto e Douro DOC.
- Área plantada: cerca de 13% da vinha nacional.
- Regiões: Douro, Dão.
- Descrição: vigorosa, regular, de cachos médios a grandes, bagos arredondados.
- Perfil aromático: rosas, flores silvestres, amoras, esteva.
- Estilo de vinho: estruturados mas elegantes, essenciais para o equilíbrio dos lotes.
Aragonês / Tinta Roriz (Tempranillo)
Casta ibérica adaptada a diversos climas, é uma das mais cultivadas em Portugal.
- Área plantada: cerca de 7% da vinha nacional.
- Regiões: Douro, Dão, Alentejo, Lisboa, Tejo.
- Descrição: precoce, vigorosa e adaptável.
- Perfil aromático: frutos vermelhos, especiarias, notas florais.
- Estilo de vinho: elegantes e estruturados, geralmente em lote.
Castelão
Uma das mais históricas do sul, com o seu melhor em Palmela.
- Área plantada: cerca de 5% da vinha nacional.
- Regiões: Lisboa, Tejo, Península de Setúbal, Alentejo.
- Descrição: rústica, resistente e adaptada a solos arenosos.
- Perfil aromático: groselha, ameixa, frutos silvestres, notas de caça.
- Estilo de vinho: vinhos firmes, de acidez viva e excelente longevidade.
Trincadeira (Tinta Amarela)
Muito associada ao Alentejo, exige clima seco para brilhar.
- Área plantada: cerca de 5% da vinha nacional.
- Regiões: Alentejo, Douro.
- Descrição: vigorosa mas sensível a doenças; irregular nos rendimentos.
- Perfil aromático: frutos vermelhos, notas vegetais e florais.
- Estilo de vinho: frescos, vibrantes, com boa acidez e aptos para guarda.
Alicante Bouschet
Uma casta francesa que se tornou “alentejana de coração”.
- Área plantada: cerca de 4% da vinha nacional.
- Regiões: sobretudo Alentejo.
- Descrição: uma das raras tintureiras (sumo e polpa tintos).
- Perfil aromático: frutos pretos, cacau, azeitona.
- Estilo de vinho: encorpados, estruturados, de cor quase opaca.
Baga
Rainha da Bairrada, famosa por vinhos austeros mas de grande longevidade.
- Área plantada: cerca de 4% da vinha nacional.
- Regiões: Bairrada, Dão, Beiras.
- Descrição: vigorosa, de maturação tardia e difícil de trabalhar.
- Perfil aromático: frutos silvestres, café, tabaco, fumo.
- Estilo de vinho: taninos sólidos, acidez alta, ideais para envelhecimento.
Castas Brancas Portuguesas
Fernão Pires (Maria Gomes)
A mais plantada entre as brancas, versátil e aromática.
- Área plantada: cerca de 8% da vinha nacional.
- Regiões: Tejo, Lisboa, Bairrada.
- Descrição: produtiva e precoce, muito aromática.
- Perfil aromático: citrinos, rosas, flor de laranjeira.
- Estilo de vinho: frescos, joviais, usados em vinhos jovens, espumantes e doces.
Arinto (Pedernã)
Conhecida pela sua acidez firme, garante frescura e longevidade.
- Área plantada: cerca de 4% da vinha nacional.
- Regiões: Bucelas, Vinhos Verdes, Tejo.
- Descrição: versátil, muito usada em lotes para melhorar acidez.
- Perfil aromático: maçã verde, limão, notas minerais.
- Estilo de vinho: frescos, minerais, ótimos para guarda.
Alvarinho
Uma das castas mais prestigiadas de Portugal, símbolo dos Vinhos Verdes.
- Área plantada: cerca de 2% da vinha nacional.
- Regiões: Monção e Melgaço (Minho).
- Descrição: baixa produção, cachos pequenos, grande qualidade.
- Perfil aromático: pêssego, maracujá, flor de laranjeira.
- Estilo de vinho: perfumados, intensos, com grande capacidade de envelhecimento.
Loureiro
Tradicional do Vale do Lima, muito aromática.
- Área plantada: cerca de 4% da vinha nacional.
- Regiões: Vinhos Verdes (Vale do Lima).
- Descrição: fértil e produtiva, excelente em lotes.
- Perfil aromático: flor de loureiro, maçã, tília.
- Estilo de vinho: frescos, aromáticos e equilibrados.
Encruzado
Casta nobre do Dão, de enorme potencial.
- Área plantada: cerca de 1% da vinha nacional.
- Regiões: Dão.
- Descrição: produtiva e versátil, ótima em estágio em madeira.
- Perfil aromático: flores brancas, citrinos, resina.
- Estilo de vinho: estruturados, untuosos e longevos.
Antão Vaz
Símbolo do Alentejo, especialmente da Vidigueira.
- Área plantada: cerca de 1,5% da vinha nacional.
- Regiões: Alentejo.
- Descrição: produtiva, bem adaptada a climas quentes.
- Perfil aromático: fruta tropical, tangerina, minerais.
- Estilo de vinho: encorpados, estruturados, bons para estágio em madeira.
Castas ligadas a vinhos portugueses famosos
Além das castas tintas e brancas mais difundidas em Portugal, existem variedades que estão diretamente associadas a vinhos icónicos, únicos no mundo. Estes exemplos são verdadeiros símbolos da identidade vínica nacional.
Moscatel (Moscatel de Setúbal e Douro)
- Área plantada: cerca de 2% da vinha nacional.
- Regiões: Península de Setúbal (Moscatel de Setúbal e Moscatel Roxo), Douro (Moscatel Galego Branco).
- Descrição: casta extremamente aromática, usada sobretudo em vinhos licorosos. No caso de Setúbal, exige mínimo de 85% de Moscatel no lote.
- Perfil aromático: flor de laranjeira, mel, passas, casca de citrinos.
- Estilo de vinho: doces, licorosos, complexos, com grande longevidade.
- Vinhos famosos: Moscatel de Setúbal DOC, Moscatel do Douro.
Castas do Vinho da Madeira
O Vinho da Madeira é um dos mais célebres generosos do mundo, baseado em quatro castas nobres principais:
- Sercial
- Estilo seco, acidez vibrante, enorme longevidade.
- Vinhos secos de aperitivo, frescos e minerais.
- Verdelho
- Meio seco, elegante, com notas cítricas e minerais.
- Vinhos equilibrados, complexos, de grande frescura.
- Boal (Bual)
- Meio doce, aromas de caramelo, frutas secas e mel.
- Vinhos ricos, macios, muito gastronómicos.
- Malvasia (Malmsey)
- Muito doce, encorpada, de aroma intenso.
- Vinhos opulentos, com notas de passas, caramelo e especiarias.
Terrantez (Folgasão)
- Regiões: Madeira (tradicional), também presente em pequenas áreas no continente.
- Descrição: casta rara e exigente, de rendimentos baixos.
- Perfil aromático: vinhos perfumados, delicados, com notas florais e minerais.
- Estilo de vinho: generosos complexos e persistentes, de grande valor histórico.
Ramisco
- Regiões: Colares (Lisboa).
- Descrição: variedade autóctone, cultivada em solos arenosos sem porta-enxerto.
- Perfil aromático: vinhos tânicos, minerais, austeros na juventude mas de grande evolução.
- Estilo de vinho: tintos de guarda longa, únicos no panorama mundial.
- Vinhos famosos: Colares DOC.
Castas usadas em Colheitas Tardias (Late Harvest)
Algumas castas portuguesas são especialmente adequadas à produção de vinhos doces de colheita tardia, muitas vezes com intervenção de Botrytis cinérea (podridão nobre):
- Fernão Pires, Arinto, Encruzado, Moscatel e Sémillon – muito usadas em vinhos tardios aromáticos e equilibrados.
- Petit Manseng e Sémillon – cultivadas em experiências no litoral (Torres Vedras), resultando em vinhos doces modernos de grande frescura.
Estes vinhos ganham destaque pela harmonia entre doçura, frescura e complexidade aromática, sendo presença cada vez mais frequente em provas de vinho em Portugal.
Castas e Vinhos Portugueses Famosos
Casta / Grupo | Regiões principais | Estilo de vinho | Exemplo de vinho famoso |
---|---|---|---|
Moscatel | Setúbal, Douro | Licorosos, doces, muito aromáticos | Moscatel de Setúbal DOC, Moscatel do Douro |
Sercial (Madeira) | Madeira | Secos, acidez vibrante, grande longevidade | Vinho da Madeira Sercial |
Verdelho (Madeira) | Madeira | Meio secos, cítricos, minerais | Vinho da Madeira Verdelho |
Boal / Bual (Madeira) | Madeira | Meio doces, notas de mel, caramelo, frutos secos | Vinho da Madeira Boal |
Malvasia (Madeira) | Madeira | Doces, opulentos, especiados, encorpados | Vinho da Madeira Malvasia |
Terrantez (Madeira) | Madeira (rara) | Generosos complexos, perfumados e persistentes | Madeira Terrantez |
Ramisco | Colares (Lisboa) | Tintos austeros, minerais, longevos | Colares DOC |
Fernão Pires, Arinto, Encruzado, Moscatel, Sémillon, Petit Manseng | Diversas regiões | Colheitas Tardias (late harvest), vinhos doces modernos | Diversos produtores (Torres Vedras, Dão, Bairrada) |
As castas portuguesas são a base da identidade dos nossos vinhos.
Da intensidade da Touriga Nacional à frescura do Arinto, da exuberância do Moscatel à nobreza do Sercial no Vinho da Madeira, cada variedade guarda séculos de história.
Conhecê-las é essencial para apreciar melhor cada prova de vinhos em Portugal, seja numa feira, num festival como o Porto Wine Fest ou numa visita de enoturismo.
Abrir uma garrafa de vinho português é abrir a porta a uma experiência sensorial rara, que atravessa regiões, histórias e estilos. É essa multiplicidade, impossível de replicar noutro lugar, que fez de Portugal um dos países mais procurados no enoturismo mundial..