Os vinhos espumantes, tanto em França como em Portugal, possuem tradições e características distintas, refletindo as particularidades das suas regiões de origem e dos métodos de produção.
O mais famoso espumante francês, o Champagne, goza de reconhecimento mundial e é produzido exclusivamente na região de Champagne, utilizando o método tradicional (champenoise).
Em Portugal, embora o espumante não tenha uma denominação tão exclusiva como o Champagne, as regiões como Bairrada, Távora-Varosa e Dão destacam-se pela produção de espumantes de alta qualidade, também utilizando o método tradicional.
A principal diferença entre os espumantes franceses e portugueses reside na história e no prestígio associado ao Champagne, além das uvas utilizadas.
Enquanto o Champagne é predominantemente produzido com Pinot Noir, Chardonnay e Pinot Meunier, em Portugal, as castas típicas são a Baga, Touriga Nacional, Arinto e Maria Gomes, adaptadas às características climáticas e do solo de cada região.
Apesar dessas diferenças, os espumantes portugueses vêm ganhando reconhecimento internacional pela sua qualidade, frescura e diversidade de estilos, oferecendo uma alternativa interessante ao Champagne francês, especialmente pela sua relação qualidade-preço.
Ambos os países têm métodos rigorosos de produção e são conhecidos pela fineza das suas bolhas e complexidade aromática.
O crescimento na produção de espumantes em Portugal tem sido impressionante nas últimas décadas.
Produção de Vinho Espumante nas 4 Principais Regiões Vitivinícolas (Fonte: IVV)
Os vinhos espumantes portugueses são caracterizados por métodos de produção que variam de acordo com o processo de fermentação e a quantidade de açúcar residual no produto final.
Método Tradicional ou Champenoise: Este é o método mais prestigiado e tradicional de produção de espumantes, também utilizado na produção do famoso Champagne.
A segunda fermentação ocorre dentro da garrafa, após a adição de uma mistura de leveduras e açúcar, chamada licor de tiragem. O gás carbónico formado durante esta fermentação é retido na garrafa, formando as bolhas características.
Este método é conhecido pela sua capacidade de gerar espumantes de alta qualidade, com bolhas finas e aromas complexos devido ao contato prolongado com as leveduras. Em Portugal, este método é amplamente utilizado nas regiões da Bairrada e Távora-Varosa.
Método Charmat: Também conhecido como método de tanque, a segunda fermentação ocorre em grandes tanques de aço inoxidável fechados (autoclaves), em vez de na garrafa.
Este método é mais rápido e econômico do que o método tradicional, e é utilizado para produzir espumantes com características mais frutadas e frescas, como o Prosecco italiano.
O espumante produzido por este método é geralmente mais leve e menos complexo, com bolhas maiores e menos persistentes.
Método Ancestral: Este é um método mais antigo e simples de produção de espumantes. O vinho é engarrafado antes de a fermentação alcoólica inicial estar completamente terminada, permitindo que o processo finalize na garrafa, o que gera bolhas naturais.
Esse método não requer uma segunda adição de açúcar e leveduras, resultando em espumantes com características mais rústicas e frequentemente com sedimentos na garrafa.
Método de Transferência: Uma variação do método tradicional, em que o vinho é transferido da garrafa para um tanque pressurizado após a segunda fermentação e antes do engarrafamento final.
Isso elimina a necessidade de remuage e dégorgement, o que simplifica o processo, mas mantém o caráter do vinho produzido pelo método tradicional.
Classificação de Espumantes por Teor de Açúcar
A quantidade de açúcar residual é uma característica importante que define o estilo do espumante. Dependendo da quantidade de açúcar adicionada durante o dégorgement (processo de remoção dos sedimentos), os espumantes podem ser classificados da seguinte forma:
Bruto Natural: 0 a 3 gramas de açúcar por litro.
Este tipo de espumante não tem adição de açúcar após a segunda fermentação, resultando num vinho extremamente seco e austero.
Extra Bruto: 3 a 6 gramas de açúcar por litro.
Um espumante bastante seco, com uma leve presença de açúcar que suaviza a acidez intensa.
Bruto: 6 a 12 gramas de açúcar por litro.
Este é o tipo mais comum de espumante seco. A adição de um pouco mais de açúcar equilibra o vinho, tornando-o mais acessível e versátil para diferentes pratos.
Extra Seco: 12 a 17 gramas de açúcar por litro.
Embora o nome possa sugerir secura, este espumante tem um leve toque de doçura perceptível, tornando-o agradável para quem procura um perfil menos austero.
Seco: 17 a 32 gramas de açúcar por litro.
A doçura começa a ser mais proeminente neste estilo, o que o torna adequado para sobremesas leves ou aperitivos.
Meio Seco: 32 a 50 gramas de açúcar por litro.
Com uma doçura pronunciada, este tipo de espumante é excelente para acompanhar pratos mais doces ou até como digestivo.
Doce: Mais de 50 gramas de açúcar por litro.
Extremamente doce, indicado para acompanhar sobremesas muito doces ou ser servido sozinho como vinho de sobremesa.
Vários espumantes portugueses têm sido frequentemente destacados em provas e comparações internacionais, recebendo classificações notáveis que mostram o crescente reconhecimento desses vinhos fora de Portugal.
Aqui estão alguns exemplos:
Real Grande Reserva Bruto 2010 (Caves da Montanha): Proveniente da Bairrada, este espumante obteve 89 pontos. É apreciado pelas suas notas de maçã e flor de laranjeira, e pela sua mousse fina e persistente. Comparado ao Champagne, apresenta um caráter mais frutado, oferecendo uma experiência distinta.
Vertice Millesime Sparkling 2012 (Caves Transmontanas): Este espumante do Douro foi classificado com 90 pontos. Com aromas intensos de frutas vermelhas e geleia de maçã, apresenta uma acidez penetrante e bolhas finas. Foi comparado com espumantes de alta qualidade da Bairrada e do Cava espanhol, demonstrando a sua complexidade e equilíbrio.
Berbereta Natural Frizzante 2017 (Quinta do Porto Nogueira): Da região de Lisboa, este espumante também alcançou 90 pontos. A sua mineralidade e elegância destacam-no, sendo muitas vezes comparado ao Prosecco italiano, o que demonstra a versatilidade e frescura dos espumantes portugueses.
Essas avaliações, que colocam os espumantes portugueses na categoria “excelente” (90-94 pontos), mostram que o país está a competir diretamente com vinhos espumantes de regiões mais conhecidas.
De acordo com o sistema de pontuação, vinhos que alcançam 95-100 pontos são considerados – “extraordinários”, enquanto os de 90-94 pontos são “excelentes”.
Como podemos ver no gráfico do Eurostat, a exportação de vinhos espumantes portugueses está a crescer, e isso é um ótimo sinal.
Pessoas de todo o mundo estão a experimentar este maravilhoso vinho e a adorá-lo.
O gráfico apresenta estatísticas referentes aos seguintes tipos de vinhos.
22041011 Champagne, with PDO
22041013 Cava, with PDO
22041015 Prosecco, with PDO
22041091 Asti spumante, with PDO
22041093 Sparkling wine of fresh grapes with a protected designation of origin “PDO” (excl. Asti spumante, Champagne, Cava and Prosecco)
22041094 Sparkling wine of fresh grapes with a protected geographical indication (PGI)
22041096 Varietal sparkling wines of fresh grapes without PDO and PGI
22041098 Sparkling wine of fresh grapes (excl. varietal wines)
Embora os espumantes portugueses ainda não tenham atingido o patamar máximo, a sua qualidade continua a crescer, posicionando-os cada vez mais como uma escolha de destaque no cenário internacional.