História do vinho rosé: do Mediterrâneo à mesa portuguesa
O vinho rosé remonta às civilizações grega e romana. Na Antiguidade, era comum diluir o vinho com água, obtendo um tom mais claro. Na região da Provença, em França, produziam-se vinhos leves de coloração rosada, especialmente apreciados durante o verão.
A expansão romana difundiu este estilo por todo o Mediterrâneo.
Durante a Idade Média e Renascença, o rosé foi considerado um vinho nobre. Em Bordéus, sob domínio britânico, destacavam-se os “claret” – vinhos de cor clara entre o branco e o tinto.
Apenas no século XIX é que o rosé se tornou uma categoria independente.
Em Portugal, a popularização ocorreu em 1942 com a criação do Mateus Rosé pela Sogrape. O formato da garrafa, inspirado nos cantis da Primeira Guerra Mundial, ajudou na sua distinção.
O Mateus Rosé conquistou os mercados britânico e norte-americano nas décadas de 1950 e 1960, representando 40% das exportações de vinho de mesa do país.
Em alguns anos, ultrapassou 3,25 milhões de caixas vendidas.
Figuras como a rainha Isabel II, Jimi Hendrix e o astronauta Frank Borman eram apreciadores. Há relatos de centenas de garrafas na adega privada de Saddam Hussein.
Nos últimos anos, o vinho rosé em Portugal deixou de estar associado apenas a estilos semi-doces e passou a integrar uma oferta mais diversa, incluindo rosés secos, biológicos e de terroir, produzidos em pequena escala e com métodos artesanais. Esta evolução reflete a tendência internacional por vinhos mais autêuticos e com identidade regional.
Como é feito o vinho rosé: maceração, sangria e prensagem
O rosé não é um simples meio-termo entre branco e tinto.
Os principais métodos são:
–Curtíssima maceração: contacto das películas com o mosto durante poucas horas até 3 dias.
–Saignée (sangria): retira-se parte do mosto da uva tinta, aumentando a concentração do restante mosto.
–Prensagem direta: a uva é prensada imediatamente, originando vinhos de tom muito claro.
–Coupage (mistura): junção de vinho tinto e branco; método controverso, usado sobretudo fora da UE.
O rosé destaca-se pela frescura, leveza, baixa tanicidade e coloração atrativa.
Em alguns casos, produtores portugueses recorrem a fermentação em barricas usadas de carvalho francês ou à técnica de bâtonnage em borras finas, conferindo maior complexidade e textura ao vinho rosé, sem comprometer a sua leveza.
Regiões e castas do vinho rosé em Portugal
Portugal produz rosés em quase todas as suas regiões vitivinícolas, com enfoque em castas autóctones:
Vinho Verde: Espadeiro, Vinhão, Padeiro. Clima húmido e fresco.
Bairrada: Baga, Touriga Nacional. Clima oceânico temperado.
Dão: Touriga Nacional, Jaen. Clima continental moderado.
Alentejo: Trincadeira, Syrah. Clima quente.
Lisboa: Castelão, Tinta Miúda. Clima atlântico.
P. de Setúbal: Moscatel Roxo, Castelão. Clima mediterrânico.
Tejo: Fernão Pires (em blend), Castelão. Clima moderado.
Trás-os-Montes: Bastardo, Touriga Franca. Clima seco.
Em cada região, a expressão do rosé varia não apenas pelas castas, mas também pelos solos (granito, xisto, calcário) e pela abordagem do produtor à colheita e vinificação.
Preços e valor de mercado
O rosé português é competitivo:
Segmento acessível: 4€ a 8€.
Premium: 15€ a 30€.
Por comparação: rosés da Provença custam em média entre 10€ e 25€.
Portugal oferece excelente relação qualidade/preço, com rosés gastronómicos e refrescantes.
O rosé português destaca-se como a categoria com maior crescimento percentual entre 2022 e 2024, tanto em volume como em valor e preço médio por litro:
Volume comercializado (milhões de litros)
2022: 8 milhões
2023: 9 milhões
2024: 9 milhões
Crescimento: +12,5%
Valor gerado (milhões de euros)
2022: 37 milhões
2023: 43 milhões
2024: 51 milhões
Crescimento: +37,84%
Preço médio (€/litro)
2022: 4,63 €
2023: 4,81 €
2024: 5,87 €
Crescimento: +31,32%
Este aumento expressivo no preço médio indica uma valorização do rosé enquanto produto diferenciado, com crescente presença em segmentos premium e maior atenção à qualidade e imagem.
Apesar de representar ainda apenas cerca de 4% do volume e 5% do valor total do mercado de vinhos tranquilos em Portugal, o rosé é a categoria com maior dinamismo relativo, beneficiando de um perfil moderno e versátil que atrai novos consumidores.
Curiosidades sobre o vinho rosé
- Não há casta “rosé”; quase todos são feitos com uvas tintas.
- A cor varia consoante a casta, método e tempo de contacto com a película.
- O champanhe rosé é um dos vinhos mais caros do mundo (ex: Krug, Dom Pérignon).
- O Mateus Rosé aparece em filmes como Animal House e em letras de canções (Elton John).
- Celebridades têm hoje as suas próprias marcas (ex: Brad Pitt – Miraval).
- Alguns concursos internacionais como Mundus Vini, Decanter World Wine Awards ou o Concurso
- Vinhos de Portugal têm premiado rosés nacionais, destacando a qualidade crescente desta categoria em Portugal.
- Contém antioxidantes naturais e apresenta grau alcoólico moderado.
Vinho rosé à mesa
Versatilidade e frescuraIdeal entre 8 °C e 12 °C, dependendo do estilo:
Rosés leves e jovens: 8–10 °C.
Rosés estruturados ou com passagem por madeira: 10–12 °C.
A temperatura correta realça os aromas frutados e florais e evita a percepção exagerada da acidez ou do álcool. Deve-se refrigerar com antecedência e evitar gelo direto para não diluir o vinho.
O vinho rosé é extremamente versátil à mesa
Na gastronomia portuguesa, harmoniza bem com:
Entradas frias: saladas de polvo, salada russa com atum, gaspacho.
Peixes e mariscos: arroz de polvo, cataplana de tamboril, amêijoas à Bulhão Pato.
Carnes brancas e enchidos: frango grelhado, lombo de porco frio, presunto curado.
Pratos vegetarianos: tártaro de beterraba, legumes grelhados, salada de queijo fresco com frutos secos.
Queijos: queijo de cabra fresco ou curado, queijo amanteigado da Serra, ricotta salgada.
Cozinha internacional: sushi, pratos de inspiração tailandesa ou mexicana com toques picantes, massas com molho de tomate leve.
Esta adaptabilidade torna o rosé ideal para refeições partilhadas, piqueniques ou jantares informais, onde a diversidade de pratos exige um vinho capaz de equilibrar sabores distintos.
Portugal oferece rosés de identidade singular, com castas autóctones, terroirs diversos e tradição vinícola centenária. Com opções para todos os gostos, o vinho rosé português está a consolidar o seu lugar no panorama internacional.
FAQ
Qual é a origem do vinho rosé? Remonta à Antiguidade Clássica, com práticas de vinificação diluídas.
Quais são as castas típicas do rosé português? Touriga Nacional, Baga, Castelão, entre outras.
Qual a temperatura ideal para servir rosé? Entre 8°C e 12°C.
Vinho rosé combina com que comida? Peixe grelhado, mariscos, saladas, tapas, sobremesa
Como se produz o vinho rosé? Com curta maceração de uvas tintas ou prensagem direta.