No passado dia 21 de janeiro de 2025, o Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, foi palco do seminário “O Mercado do Vinho”, promovido pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e a APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição).
O evento contou com a presença de Álvaro Mendonça e Moura, presidente da CAP, que sublinhou a importância do setor vitivinícola para a economia e a cultura portuguesas, mas também apontou os desafios que este enfrenta a nível nacional e global.
Três décadas de cooperação e desafios persistentes
Na sua intervenção, Mendonça e Moura relembrou o marco histórico de 30 anos de parceria entre a CAP e a APED (Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição), uma colaboração que visava aproximar os setores de produção agrícola e distribuição. No entanto, fez questão de salientar que, apesar dos resultados positivos obtidos, muitos objetivos continuam por alcançar.
“A produção continua a ser o parente pobre da cadeia agroalimentar”, afirmou, referindo-se à desvalorização relativa do papel do produtor face à distribuição.
O presidente da CAP alertou para a necessidade de uma maior articulação e equilíbrio entre as diferentes entidades da cadeia agroalimentar, para garantir um sistema mais justo e transparente.
O impacto do setor do vinho em Portugal
No âmbito do seminário, Álvaro Mendonça e Moura destacou o papel central que o setor da vinha e do vinho desempenha na economia e sociedade portuguesas. Segundo o presidente da CAP, “o setor representa cerca de 2,7% do PIB nacional e gera 168 mil empregos”, uma demonstração clara da sua relevância económica.
Além disso, o setor tem impacto significativo no ordenamento do território e na valorização das paisagens, sendo crucial para a promoção do turismo em espaços rurais e culturais.
Recordou também o património único de Portugal, com 14 regiões vinícolas, 261 castas autóctones e duas regiões reconhecidas como Património Mundial da Humanidade pela UNESCO: o Alto Douro Vinhateiro (desde 2001) e a Paisagem da Cultura da Vinha da Ilha do Pico (desde 2004).
Exportações: entre o sucesso e os desafios
Álvaro Mendonça e Moura apresentou números robustos sobre as exportações de vinho português, destacando que o país exporta para 150 mercados e que o setor representa 71% das exportações de bebidas e 11% das exportações agroalimentares nacionais.
Os principais destinos incluem os Estados Unidos e França, seguidos de perto pelo Brasil e Reino Unido. Apesar disso, apontou uma contradição que reflete um desafio estrutural: “Somos o 9.º maior exportador em valor, mas o 7.º em volume. Estes números mostram que ainda há um caminho a percorrer para aumentar o valor associado aos nossos vinhos.”
Preocupações com a imagem do vinho e o consumo global
No entanto, o presidente da CAP alertou para uma redução global do consumo de vinho e para os desafios relacionados com a sua imagem perante o público. Mendonça e Moura referiu a existência de uma dicotomia entre vinho e saúde, que prejudica a perceção do setor.
“Temos um problema de imagem, um problema de dicotomia entre vinho e saúde, que é preciso combater com esforço e realismo”, afirmou, sublinhando a necessidade de sensibilizar o público para os benefícios do consumo moderado de vinho e de apostar numa comunicação mais eficaz.
Um futuro de trabalho e cooperação
O presidente da CAP encerrou a sua intervenção com uma mensagem de realismo, mas também de esperança. Reconheceu os desafios atuais, mas apelou à união de esforços entre os diferentes agentes do setor para continuar a promover o vinho português como um produto de excelência.
“Não é com pessimismo, mas com realismo, que podemos continuar a crescer. É isto que espero ouvir e debater neste seminário,” concluiu, reforçando a importância do diálogo e da cooperação para enfrentar os desafios futuros.
O seminário “O Mercado do Vinho” proporcionou um espaço de reflexão e debate sobre o presente e o futuro do setor vitivinícola em Portugal. As palavras de Álvaro Mendonça e Moura refletem tanto os desafios como as oportunidades que o vinho português enfrenta, destacando a necessidade de cooperação e valorização contínua para fortalecer o papel do setor no panorama nacional e internacional.