José António Nogueira de Brito: “Precisamos de trabalhar em conjunto”

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No passado dia 21 de janeiro de 2025, o Centro Nacional de Exposições e Mercados Agrícolas (CNEMA), em Santarém, foi palco do seminário “O Mercado do Vinho”, organizado pela Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) e pela Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APED).

O evento reuniu os principais intervenientes do setor vinícola, desde produtores a distribuidores, com o objetivo de fomentar o diálogo e debater os desafios que o setor enfrenta no contexto atual.

José António Nogueira de Brito, Presidente da Associação Portuguesa de Empresas de Distribuição (APE), iniciou a sessão com uma mensagem clara sobre o propósito do encontro: “Hoje estamos aqui para celebrar a qualidade e a variedade dos vinhos portugueses, mas, sobretudo, para discutir desafios e soluções. Este é um espaço de partilha e trabalho.”

Distribuição de Valor


Um dos tópicos mais debatidos no seminário foi a questão da distribuição de valor ao longo da cadeia de produção e comercialização do vinho. Nogueira de Brito reconheceu as dificuldades nesta área e chamou a atenção para a falta de compreensão sobre os custos que cada etapa do processo envolve.

“É comum ouvir-se falar no preço da uva à saída da exploração e compará-lo diretamente com o preço de uma garrafa no supermercado, esquecendo tudo o que está pelo caminho: vinificação, engarrafamento, logística e transporte…” explicou o Presidente da APE.

O baixo nível de rentabilidade das empresas de distribuição também foi destacado como um fator crucial a ser considerado. “As empresas de distribuição, mesmo as maiores, operam com margens muito reduzidas. Pequenas alterações nos custos podem comprometer a sustentabilidade de toda a operação. Por isso, esta questão da distribuição de valor deve ser discutida com seriedade e baseada em dados concretos,” acrescentou.

Para enfrentar estas questões, Nogueira de Brito defendeu iniciativas como os observatórios de preços, afirmando: “Quanto mais informação houver, mais rapidamente poderemos compreender os verdadeiros problemas e encontrar soluções que beneficiem todos.”

Sustentabilidade no setor Vinícola


Outro tema central do seminário foram os desafios ambientais que afetam a produção de vinho. As alterações climáticas, com fenómenos como a escassez de água e o deslocamento de regiões produtoras, foram apontadas como problemas que requerem atenção urgente.

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“Existem regiões que já não são adequadas para a produção de vinho devido às mudanças climáticas, enquanto novas áreas surgem como alternativas. Isto gera instabilidade e impactos significativos para as empresas do setor…” alertou o Presidente da APE.

A gestão de recursos naturais foi outro ponto destacado no discurso. “O consumo de água é, hoje, uma preocupação crítica para o setor. Não podemos ignorar o impacto ambiental do cultivo intensivo de vinha, que pode levar à degradação do solo e à perda de biodiversidade…” afirmou.

O uso excessivo de pesticidas e fertilizantes, bem como as emissões de carbono, foram também identificados como questões prioritárias para a sustentabilidade do setor.

Cooperação: Um caminho necessário


Para Nogueira de Brito, a solução para muitos destes desafios passa pela cooperação e pela inovação. “O setor vinícola é resiliente, mas enfrenta desafios que exigem uma abordagem conjunta. Precisamos de trabalhar em conjunto para promover práticas mais sustentáveis e garantir a competitividade do vinho português no mercado global…” afirmou.

Entre os vários temas discutidos, o Presidente da APE enfatizou a importância de prestar atenção às pressões sociais e económicas que marcam o setor.

Desafios laborais no setor Vinícola

“É algo que deve preocupar o setor. Para além da falta de mão de obra, existe ainda a preocupação com as condições da mão de obra…” afirmou. Nogueira de Brito sublinhou que, no futuro, o setor dependerá cada vez mais de uma força de trabalho imigrante, o que torna crucial garantir o tratamento digno, a integração e as condições de vida adequadas para essas pessoas.

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“O tratamento destas pessoas e as condições de vida que lhes são proporcionadas são questões de enorme importância para o setor.”

Outro ponto sensível levantado foi o impacto da dimensão das empresas no contexto atual.

“Cada vez mais é difícil, neste mundo complexo, as pequenas empresas e os pequenos produtores sobreviverem em concorrência com produtores maiores,” alertou, referindo-se aos frequentes movimentos de concentração e fusão que também afetam o setor vinícola. Esta realidade, segundo ele, impõe desafios adicionais para os pequenos produtores, que enfrentam dificuldades em acompanhar a competitividade no mercado.

“Tudo isto representa uma grande ameaça para o setor, no que diz respeito ao aumento dos custos, quer da mão de obra, quer da produção em geral”, continuou Nogueira de Brito.

O paradoxo do consumidor

No entanto, o Presidente da APE chamou a atenção para o paradoxo enfrentado pelo setor: o consumidor, enquanto exige sustentabilidade e qualidade, espera também preços acessíveis. “Nós, na distribuição, temos muita dificuldade em passar essa mensagem na cadeia de valor, mas o consumidor espera tudo isto a preços acessíveis…” destacou, acrescentando que essa pressão afeta tanto os distribuidores quanto os produtores.

Coloca uma pressão muito grande para encontrar soluções num quadro de eficiências que permitam trabalhar com margens mais reduzidas.”

José António Nogueira de Brito reconheceu a complexidade deste cenário, mas reforçou o compromisso da distribuição com a produção nacional de vinhos.

“É um cenário difícil, não haja a mínima dúvida. Mas nós queremos participar neste debate e é para isso que temos vindo a promover estes encontros,” declarou.

Concluindo o seu discurso, agradeceu a presença significativa dos participantes e reiterou a importância do trabalho conjunto. “Só de forma colaborativa, reforçando o compromisso da distribuição com a produção de vinhos portugueses, é que poderemos todos melhorar aquele que é este setor tão importante para nós todos.”

O Presidente da APE expressou ainda a esperança de que a troca de ideias promovida pelo evento resultasse em soluções práticas e inovadoras para fortalecer o setor vinícola em Portugal.

“Este é um momento para refletir, mas também para agir. Todos nós – produtores, distribuidores e consumidores – temos um papel a desempenhar na construção de um futuro mais sustentável e próspero para o vinho português,” concluiu Nogueira de Brito.