Foi muito interessante acompanhar a apresentação de Maria João Real Dias, representante do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), durante o Fórum Anual 2024.
Nesta análise, destacamos os dados mais significativos apresentados. Pode consultar a apresentação completa no link oficial: MERCADO NACIONAL 2024.
Crescimento no valor dos vinhos portugueses, especialmente os certificados
Os dados apresentados para o período de 2016 a 2023 mostram uma tendência clara de aumento do valor total dos vinhos vendidos. Este crescimento é animador, pois demonstra que os vinhos portugueses estão a afastar-se da imagem do “3 B’s” – Bom, Bonito e Barato – para uma valorização baseada na qualidade.
Entre 2016 e 2023:
- Volume: A produção variou entre 255 e 281 milhões de litros, com um pico registado em 2022.
- Valor: O mercado cresceu de 847 milhões de euros em 2016 para 1.144 milhões em 2023.
Esta evolução é visível no slide “Portugal Evolução Vendas 2016 a 2023 | Distribuição”
Outro ponto notável é o maior crescimento do valor dos vinhos certificados em comparação com os não certificados.
Este é um sinal claro de que os consumidores procuram qualidade e estão dispostos a pagar mais por vinhos certificados.
Para os produtores, isso representa um incentivo para investir na certificação, garantindo acesso a um segmento de mercado mais lucrativo.
Em que canais de venda os preços dos vinhos crescem mais rapidamente?
O slide “Portugal Evolução Vendas 2016 a 2023 | Preço Médio (€/L)” ilustra as tendências.
Entre 2016 e 2023, as mudanças nos preços médios por canal de venda foram:
- Restauração: aumento de 15,15%.
- Distribuição: aumento de 34,12%.
- Total Geral: crescimento de 23,64%.
Outro dado que reforça a importância da certificação está neste slide.
Entre 2016 e 2023, os preços médios por tipo de vinho registaram:
- Vinhos Certificados: aumento de 27,52%.
- Vinhos Não Certificados: aumento de 13,57%.
Os dados mostram que os vinhos certificados continuam a liderar em valorização, refletindo a sua crescente popularidade e o valor atribuído à qualidade.
Dados de 2024
Passando aos números mais recentes, a análise dos três primeiros trimestres de 2024, em comparação com períodos homólogos, revela:
- Restauração:
- Volume de vendas aumentou 30,91%.
- Valor cresceu 50,65%.
- Preço médio subiu 15,06%.
- Distribuição:
- Volume diminuiu 6,62%.
- Valor cresceu modestamente em 1,76%.
- Preço médio aumentou 8,75%.
Estes dados mostram um crescimento significativo na restauração, tanto em volume como em valor, destacando o regresso dos consumidores ao consumo fora de casa e a sua disposição em pagar por vinhos premium.
Por outro lado, a distribuição registou uma ligeira redução em volume, mantendo-se estável em valor, enquanto os preços médios continuam a crescer moderadamente.
Preferências por tipo de vinho
Passando à análise por tipo de vinho, é visível uma tendência de crescimento contínuo nos rosés e brancos, enquanto os tintos mostram uma evolução mais estável.
Entre 2022 e 2024:
Os rosés mostram o maior crescimento em termos de volume, valor e preço médio, possivelmente devido à sua crescente aceitação no segmento premium.
Volume (milhões de litros):
Tintos: +1,71%.
Brancos: +4,88%.
Rosés: +12,50%.
Valor (milhões de euros):
Tintos: +21,51%.
Brancos: +30,53%.
Rosés: +37,84%.
Preço Médio (€/L):
Tintos: +19,28%.
Brancos: +22,08%.
Rosés: +31,32%.
Os brancos seguem uma tendência positiva, enquanto os tintos continuam a liderar, mas com crescimentos mais modestos.
Mercado de vinhos certificados por região
O slide “Vinho Certificado | Quota de Mercado 2024” apresenta dados fascinantes sobre os principais contributos regionais.
Por Volume:
Alentejo (36,0%): Lidera claramente, assegurando mais de um terço do mercado total de vinhos certificados.
Península de Setúbal (16,7%) e Minho (16,5%): Têm quotas muito semelhantes, partilhando a segunda posição.
Douro (14,4%): Ocupa o terceiro lugar, ligeiramente atrás de Setúbal e Minho.
Tejo (6,2%) e Terras do Dão (4,3%): Apresentam contribuições moderadas.
Lisboa (3,8%): Contribui com uma menor parcela entre os principais produtores.
Outros produtores menores, como Beira Interior, Beira Atlântico, Algarve, Trás-os-Montes e Terras de Cister, têm quotas mais reduzidas.
Por Valor:
Alentejo (36,5%): Mantém-se no topo também em termos de valor, o que demonstra a elevada perceção de qualidade dos seus vinhos.
Douro (22,2%): Supera significativamente os restantes em valor, sublinhando o estatuto premium da região.
Minho (15,5%): Demonstra um equilíbrio estável, ocupando o terceiro lugar.
Península de Setúbal (10,9%): Tem um peso menor em valor comparativamente ao volume.
Terras do Dão (4,7%), Tejo (4,2%) e Lisboa (3,2%): Mantêm quotas mais reduzidas, mas consistentes.
Tendências e Projeções:
Alentejo consolida-se como o motor do mercado, liderando tanto em volume como em valor.
Douro destaca-se pelo elevado valor, mesmo com uma menor contribuição em volume, reforçando a perceção premium dos seus vinhos.
Minho e Setúbal mostram um equilíbrio interessante entre valor e volume, sendo regiões a observar.
Regiões menores, como Tejo e Lisboa, continuam focadas em nichos e mercados específicos.
Espera-se que as regiões premium, como Douro e Alentejo, continuem a crescer em valor, enquanto o Minho poderá expandir a sua influência, aproveitando a popularidade do Vinho Verde.
Conclusão
Entre os destaques da análise, podemos observar:
O crescimento consistente no valor total dos vinhos vendidos, com especial atenção para os vinhos certificados, que reforçam a sua relevância como escolha preferida dos consumidores mais exigentes.
O dinamismo nos canais de venda, onde a restauração recupera a sua força como motor de crescimento e os preços médios continuam a aumentar, refletindo a aposta em produtos premium.
A expansão dos rosés e brancos como novas tendências no mercado, enquanto os tintos permanecem sólidos na liderança.