Portugal é um país com uma riqueza vitivinícola ímpar, possuindo 14 regiões vitivinícolas oficialmente reconhecidas. Cada uma delas guarda história, tradição e inovação, refletindo a diversidade de castas, climas e solos que moldam os vinhos portugueses.
De acordo com dados oficiais do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), referentes ao período janeiro a setembro de 2024, é possível compreender a distribuição do mercado dos vinhos tranquilos certificados, revelando o peso de cada região em volume e valor.
Classificação por Volume de Mercado
O volume traduz a quantidade de vinho certificado consumido no país.
Em 2024, o Alentejo lidera destacadamente com 36%, seguido pela Península de Setúbal (16,7%) e pelo Minho (16,5%), onde se produzem os Vinhos Verdes.
O Douro, berço do famoso Vinho do Porto mas também de vinhos tranquilos de elevada qualidade, ocupa o quarto lugar com 14,4%.
Outras regiões como o Tejo (6,2%), o Dão (4,3%) e Lisboa (3,8%) mantêm presença relevante, enquanto Beira Interior, Beira Atlântico, Algarve, Trás-os-Montes e Terras de Cister têm quotas inferiores a 2%.
Classificação por Valor Económico
Quando analisamos o mercado em valor, percebe-se a diferença entre quantidade e prestígio comercial. O Alentejo mantém a liderança (36,5%).
Mas o Douro surge em segundo lugar com 22,2%, revelando o impacto da sua notoriedade internacional.
O Minho ocupa 15,5% e a Península de Setúbal 10,9%.
Regiões como o Dão (4,7%) e o Tejo (4,2%) confirmam a sua importância, enquanto Lisboa (3,2%) e Beira Interior permanecem em patamares mais reduzidos.
Classificação por Volume e Valor Económico vinhos tranquilos
Região | Volume (%) | Valor (%) |
---|---|---|
Alentejo | 36,0 | 36,5 |
Península de Setúbal | 16,7 | 10,9 |
Minho (Vinhos Verdes) | 16,5 | 15,5 |
Douro | 14,4 | 22,2 |
Tejo | 6,2 | 4,2 |
Dão | 4,3 | 4,7 |
Lisboa | 3,8 | 3,2 |
Beira Interior | ~1,0 | ~1,0 |
Beira Atlântico | <1,0 | <1,0 |
Algarve | <1,0 | <1,0 |
Trás-os-Montes | <1,0 | <1,0 |
Terras de Cister | <1,0 | <1,0 |
Fonte: Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), apresentação de novembro 2024.
Regiões e Vinhos de Maior Notoriedade
A análise de mercado não esgota a relevância cultural e histórica. Há vinhos que, pelo prestígio, colocaram Portugal no mapa mundial:
- Douro: além do Vinho do Porto, aqui nasceu o lendário Barca Velha, um dos vinhos de mesa mais icónicos do país.
- Alentejo: combina escala com qualidade e é origem de vinhos de culto como o exclusivo Pêra-Manca, considerado um dos mais prestigiados vinhos portugueses, e projetos de excelência como o Júpiter.
- Península de Setúbal: reconhecida pelo Moscatel de Setúbal, um vinho generoso de renome internacional.
- Açores: com vinhos únicos de terroir atlântico, produzidos em solos de origem vulcânica, reconhecidos como património da UNESCO na Ilha do Pico.
- Madeira: famosa pelo vinho fortificado homónimo, de longa tradição exportadora.
- Dão e Bairrada: o Dão pela elegância e longevidade, a Bairrada pelos espumantes e pela casta Baga.
- Lisboa, Algarve, Beira Interior e Trás-os-Montes: com menor peso estatístico, mas cada vez mais valorizadas pelo carácter diferenciado e pela afirmação no enoturismo.
O Vinho e a Arte
Tal como a arte, o vinho é uma forma de expressão cultural. Cada região vitivinícola funciona como uma “escola artística”, com o seu estilo, a sua paleta de castas e a sua identidade própria. Se o Douro pode ser comparado a uma pintura barroca, cheia de intensidade e dramatismo, o Alentejo remete para uma tela ampla e luminosa, onde a suavidade das cores se mistura com a força da paisagem.
O Minho, com os seus Vinhos Verdes, lembra a leveza da aquarela, enquanto o Moscatel de Setúbal tem o brilho de um vitral medieval. Já os Vinhos do Porto e da Madeira podem ser vistos como esculturas clássicas, resistentes ao tempo, capazes de atravessar séculos mantendo a sua identidade.
Assim como nas galerias de arte, onde convivem obras-primas consagradas e jovens talentos, no universo do vinho português encontramos tanto ícones de culto como Barca Velha ou Pêra-Manca, como projetos contemporâneos que desafiam convenções e exploram novas linguagens.
No fundo, beber vinho é também apreciar uma obra de arte líquida, que resulta do talento humano e da inspiração da natureza.
Então, os dados oficiais do IVV mostram que o Alentejo domina em quantidade e valor, enquanto o Douro assume posição de prestígio económico. O Minho e a Península de Setúbal completam o núcleo das regiões mais expressivas no mercado nacional de vinhos tranquilos certificados.
Mas, os vinhos portugueses não se esgotam nestas quatro regiões: o Moscatel de Setúbal, o Vinho do Porto, os Vinhos dos Açores, os espumantes da Bairrada e referências de culto como Barca Velha ou Júpiter confirmam que cada região tem o seu papel.
Em suma, todas as 14 regiões vitivinícolas são essenciais.
O futuro do vinho português depende tanto da força comercial das grandes regiões como do desenvolvimento e valorização das menores, que guardam castas autóctones e tradições únicas.