Vinhos Almasim das Terras de Sicó: Tradição e Singularidade

almasim pipas 1200

Recentemente, visitámos o viticultor Álvaro Marques Simões (vinhos Almasim), originário da sub-região das Terras de Sicó, na Beira Atlântico, mais precisamente do pequeno povoado de Podentes, próximo de Penela.

Podentes

A razão da visita foi repor o stock de um vinho que nos deixou uma impressão marcante: o Às de Sicó Tinto.

as de sico frente

Durante a compra, aproveitámos para conversar sobre vinhos e o negócio vitivinícola.

Tivemos ainda a oportunidade de provar um novo vinho tinto de teor alcoólico reduzido, ainda não lançado no mercado. Trata-se de um vinho leve e saboroso, ideal para refrescar em dias quentes.


Entrevista com Álvaro Marques Simões

alvaro marques simoes

Por que o nome “Às de Sicó”?

As Terras de Sicó são um maciço cárstico, o que influencia diretamente a identidade dos vinhos produzidos nesta região. Em outras partes do mundo, como em algumas zonas de Itália, os vinhos cársticos são bastante reconhecidos.

A diferença essencial está no terroir: enquanto a maioria dos solos vitivinícolas tem uma base argilo-calcária, aqui o solo é predominantemente calcário ou de gesso, substituindo a argila pelo grés.

O grés contém feldspato e mica, elementos que estabilizam melhor a temperatura. Isso leva a uma maturação mais homogênea das uvas, permitindo maior acumulação de açúcares e frutose.

Consequentemente, os vinhos apresentam perfis diferenciados. Além disso, os maciços cársticos têm pequenos rios subterrâneos, que favorecem a oxigenação do solo e melhoram a qualidade dos nutrientes disponíveis para as videiras.

Que castas utiliza no Às de Sicó?

– O Às de Sicó Tinto combina as castas Baga, Touriga Nacional, Tinta Roriz e Fernão-Pires.

As vinhas são antigas ou recentes?

– A produção tem ambas as componentes. A Baga provém de vinhas velhas, enquanto as restantes castas foram plantadas mais recentemente.

vinhas podentes 1200

Como conseguem criar vinhos mais frescos?

– Quando se pretende que os vinhos tenham aromas mais jovens e florais, a colheita é feita mais cedo, garantindo maior acidez e frescura e reduzindo o teor alcoólico.

O novo vinho que provámos tem 11,5% de teor alcoólico e foi concebido para ser um excelente tinto de verão. Embora os tintos geralmente não sejam refrigerados, convém que haja opções naturalmente frescas para consumo nos meses mais quentes.

Há planos para espumantes?

– Este vinho tem potencial para ser transformado num espumante bruto, mas estamos ainda numa fase inicial. Por agora, preferimos focar na qualidade e produção controlada.

Qual a escala de produção?

– Produzimos cerca de 10 mil garrafas por ano, sendo 80% de vinho tinto e 20% de branco. Nos brancos, trabalhamos exclusivamente com Fernão-Pires, que se adapta muito bem ao terroir cárstico da região.

almasim vinhos 1200

Por que os vinhos portugueses, mesmo de alta qualidade, têm preços baixos?

– A falta de penetração no mercado é um dos principais fatores. Conseguimos vender a produção localmente, mas não temos escala para expandir.

Mesmo aqueles que tentam atingir novos mercados enfrentam dificuldades, principalmente por falta de investimento em marketing e promoção.

Pouco se fala de vinhos cársticos em Portugal, enquanto, na Itália, essa tipologia é certificada e altamente valorizada. Esta zona das Terras de Sicó é relativamente isolada e não possui uma economia forte baseada na viticultura.

cruz podentes 1200

A maioria das vinhas é de subsistência, com produção voltada mais para o consumo próprio ou social do que para o mercado comercial.

Venda online é uma possibilidade?

– Na região, apenas dois ou três produtores exploram a venda online. A grande maioria ainda vende para os mesmos clientes habituais, sem grande investimento em novas estratégias de comercialização. No entanto, o e-commerce é um setor com grande potencial.

Que iniciativas são feitas para promover os vinhos?

– Uma das formas de divulgação que utilizo é a organização de almoços de degustação, com grupos entre 8 e 15 pessoas, onde apresento e explico os vinhos.

Também tenho uma ligação com a restauração. Em Coimbra, na Rua dos Combatentes, fui proprietário da Taberna, um restaurante de cozinha tradicional, especializado em pratos de forno a lenha. Além da gastronomia, o local era um ponto de venda dos meus vinhos.

Harmonização: Vinhos para os pratos ou pratos para os vinhos?

Para mim, o conceito é claro: imagino os pratos para os vinhos, e não os vinhos para os pratos.


A vinicultura nas Terras de Sicó continua a ser um segredo bem guardado, mas produtores como Álvaro Marques Simões estão a mudar esse panorama, apostando em vinhos singulares e autênticos, que refletem as particularidades do terroir cárstico da região.

almasim adega 1200

Com uma abordagem cuidadosa, que respeita a tradição mas mantém um olhar no futuro, os viticultores portugueses têm tudo para conquistar apreciadores dentro e fora de Portugal.

almasim caixa 1200

Os vinhos cársticos são produzidos em regiões onde o solo tem uma composição predominantemente calcária, geralmente em terrenos cársticos, que apresentam elevada porosidade, sistemas subterrâneos de drenagem e influência significativa no microclima das vinhas.

Essas condições favorecem a produção de vinhos com grande frescura, mineralidade e estrutura diferenciada.

Regiões com Produção de Vinhos Cársticos

Itália – Carso (Friuli-Venezia Giulia)

Uma das regiões mais conhecidas pela produção de vinhos cársticos.
Solos ricos em calcário vermelho e ventos frios do Adriático influenciam os vinhos.
Castas típicas: Vitoska, Malvasia Istriana e Terrano (variedade da Refosco).

Eslovênia – Kras

Regiões adjacentes a Carso, partilhando condições semelhantes.
Vinhos altamente minerais, com destaque para os tintos de Refosco e os brancos de Malvasia.

França – Jura e Champagne

Jura possui solos cársticos que influenciam vinhos de Savagnin e Chardonnay com elevada acidez e notas minerais.
Champagne, apesar de ter solos predominantemente calcários, compartilha características cársticas, influenciando a produção de vinhos espumantes com frescura notável.

Espanha – Priorat e Penedès

Algumas áreas de Priorat possuem formações cársticas associadas a licorella (ardósia), contribuindo para vinhos concentrados e estruturados. Em Penedès, a presença de calcário influencia a qualidade dos espumantes Cava.

Croácia – Istria e Dalmácia

Istria tem solos cársticos que favorecem a produção de vinhos brancos como Malvasia Istarska.
Na Dalmácia, vinhas cultivadas em encostas calcárias produzem vinhos tintos expressivos de Plavac Mali.

Áustria – Burgenland e Carnuntum

Influência cárstica na produção de vinhos brancos secos com elevada acidez, principalmente de Grüner Veltliner.


A presença de solos cársticos em diferentes partes do mundo contribui para vinhos com perfis únicos, marcados por alta acidez, mineralidade e estrutura distinta.


Viachaslau bebida.pt