40 Milhões de litros de Vinho em Excesso

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Como escreve Diario de Notícias – a indústria vinícola portuguesa enfrenta um dos maiores desafios das últimas décadas, com um excesso de 40 milhões de litros de vinho que ameaça desestabilizar o mercado.

A sobreprodução nas várias regiões vinícolas do país, associada à queda do consumo interno e à desaceleração nas exportações, tem pressionado os preços do vinho e colocado em risco a sustentabilidade económica de muitos produtores, especialmente os de pequena e média dimensão.

A proposta de destilação de crise

Para mitigar esta situação, o governo propôs uma solução temporária de destilação de crise, uma prática comum em anos de excedentes vinícolas. A ideia é retirar o excesso de vinho do mercado, transformando-o em álcool para uso industrial ou combustível.

Para este processo, foram alocados 20 milhões de euros, sendo que 4,5 milhões provêm de fundos europeus e 3,5 milhões de receitas próprias do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP). Estes valores são suficientes para destilar apenas 10,7 milhões de litros, o que representa uma fração do excesso total de 40 milhões de litros.

Preços da destilação: uma questão de debate

Os preços oferecidos pelo governo para a destilação têm gerado controvérsia entre os produtores. O valor proposto é de 42 cêntimos por litro para a maioria das regiões vinícolas de Portugal, e 75 cêntimos por litro para os vinhos da região do Douro.

Este valor mais elevado no Douro reflete os maiores custos de produção na região, devido às suas características geográficas e aos métodos de vinificação tradicionais. Ainda assim, muitos produtores argumentam que esses valores não cobrem os custos de produção e que, portanto, a destilação por si só não resolverá os problemas estruturais do setor.

Regiões afetadas e volume de vinho a destilar

Duas das regiões mais afetadas pela crise são Lisboa e o Douro. Lisboa submeteu 9,5 milhões de litros para a destilação, enquanto o Douro, uma das regiões mais emblemáticas da produção vinícola em Portugal, submeteu mais de 11,3 milhões de litros. Estas regiões, historicamente dependentes da produção vinícola, estão a sofrer com a falta de procura tanto no mercado interno quanto nos mercados de exportação.

uvas pretos

Além dessas, outras regiões como o Alentejo, que também possui uma produção significativa de vinho, enfrentam dificuldades semelhantes.

No total, os 40 milhões de litros de vinho excedentes representam uma ameaça direta à sobrevivência de muitos produtores, especialmente os pequenos e médios, que já operam com margens de lucro reduzidas.

Comparação com outras regiões vinícolas

A crise em Portugal ocorre num contexto de competição global cada vez maior. Castilla-La Mancha, em Espanha, por exemplo, tem uma área de vinha de 450 mil hectares, o que é mais de duas vezes e meia a área total de vinha em Portugal, que é de 180.360 hectares. Esta região espanhola, a maior produtora de vinho do mundo, também enfrenta desafios relacionados ao excesso de produção, mas a sua dimensão permite-lhe enfrentar estas crises com uma margem de manobra maior.

Em comparação, a menor área de produção em Portugal, apesar da alta qualidade dos vinhos, torna o setor mais vulnerável a flutuações no consumo e nos mercados internacionais.

O papel do IVV e os próximos passos

O Instituto da Vinha e do Vinho (IVV), juntamente com o Conselho Consultivo, tem até o dia 13 de setembro para receber contributos sobre a proposta de destilação e outras medidas a serem tomadas para enfrentar esta crise.

Entre as soluções em discussão estão também ajustes na produção futura, para evitar novos excessos, e estratégias para a expansão dos mercados de exportação, com foco em regiões em crescimento, como a Ásia e a América Latina.

No entanto, muitos produtores acreditam que as medidas de curto prazo, como a destilação, devem ser acompanhadas de reformas estruturais que garantam a sustentabilidade do setor a longo prazo. Isso inclui a promoção de vinhos portugueses em novos mercados, a diversificação de produtos e o desenvolvimento de estratégias de marketing mais agressivas para competir com outras grandes regiões produtoras de vinho.

Portugal, com sua rica tradição vinícola e reputação de produzir vinhos de alta qualidade, tem o potencial de superar esta crise, mas o caminho exigirá cooperação entre produtores, governo e entidades reguladoras.