A mais recente análise ao desempenho das exportações de vinho português foi apresentada por Maria João Real Dias, do Instituto da Vinha e do Vinho (IVV, IP), durante o Fórum Anual dos Vinhos de Portugal 2025, realizado a 27 de novembro no Espaço Multiusos do IVV, em Almeirim.
A sessão focou-se na evolução das exportações entre janeiro e setembro de 2025, destacando a estabilidade estrutural por tipo de vinho, mas também revelando sinais de pressão ao nível dos preços médios praticados no mercado internacional.
DO/IG: A Coluna Vertebral das Exportações Portuguesas
Os vinhos tranquilos com Denominação de Origem (DO) ou Indicação Geográfica (IG) continuam a ser os grandes campeões das exportações nacionais. Com 119 milhões de litros exportados entre janeiro e setembro de 2025 — ligeiramente acima dos 117 milhões registados em 2024 — este segmento mostra uma consistência invejável.
Mas o que realmente salta à vista é a manutenção quase inalterada do valor: 348 milhões de euros em 2025, apenas um milhão abaixo do ano anterior.
Ainda assim, o preço médio reduziu ligeiramente, de 3,0 para 2,9 €/litro. Embora pareça um detalhe menor, esta variação indica claramente a necessidade de um posicionamento premium dos vinhos.
Sem DO/IG: Uma Força Silenciosa em Ascensão
Os vinhos tranquilos sem DO/IG, muitas vezes vistos como os “soldados rasos” da fileira vinícola, mostram que também têm espaço para brilhar. Em 2025, exportaram 95 milhões de litros — contra 92 milhões em 2024 — e subiram ligeiramente em valor, de 118 para 119 milhões de euros. O preço médio, previsivelmente, manteve-se estável nos 1,3 €/litro.
Este tipo de vinho é crucial para mercados onde o preço dita a escolha, mas onde a consistência e a qualidade ainda contam. É também um trampolim para futuros apreciadores de vinhos com DO/IG. E, num certo sentido, são vinhos democráticos: simples, acessíveis.
Vinho do Porto: Luxo, Património e Prestígio
O Vinho do Porto continua a ser um dos embaixadores mais prestigiados de Portugal. Em 2025, o volume manteve-se nos 36 milhões de litros, mas o valor caiu ligeiramente de 200 para 199 milhões de euros. Ainda assim, o preço médio manteve-se nos robustos 5,5 €/litro.
Este vinho fortificado, com séculos de história, continua a ser valorizado como produto de excelência e de celebração. O Vinho do Porto é como símbolo de valor e autenticidade. Num tempo de volatilidade, ele é um farol de estabilidade.
Espumantes: O Pequeno Rebelde do Setor
Os espumantes portugueses, particularmente das regiões da Bairrada e de Távora-Varosa, começam a ganhar tração no mercado externo. Em 2025, as exportações subiram de 1,6 para 2,0 milhões de litros. Contudo, o valor manteve-se nos 9 milhões de euros, com uma queda no preço médio de 5,4 para 4,5 €/litro.
Seja como for, os espumantes portugueses ainda estão em fase de afirmação, mas mostram potencial para ser a surpresa dos próximos anos — especialmente em mercados como o Brasil, EUA e Canadá, onde há abertura para descobrir novas origens.
Retrato Global: Uma Balança Equilibrada, com Alerta no Preço
No total, a estrutura das exportações de vinho português em 2025 mantém-se praticamente inalterada:
- Vinhos tranquilos com DO/IG: cerca de 50% do valor total exportado
- Vinho do Porto: 28,6%
- Vinhos sem DO/IG: 17,2%
- Espumantes: 1% a 1,3%
O recuo nos preços médios em alguns segmentos — embora moderado — não deve ser ignorado. Em tempos de inflação global, custos logísticos crescentes e volatilidade cambial, cada euro conta.
Enoturismo e Provas de Vinho: O Trunfo Nacional
Se o vinho português já tem uma reputação consolidada nas garrafeiras internacionais, é no contacto direto com os consumidores que ele conquista de vez o coração e o paladar. O enoturismo em Portugal continua em expansão, com destaque para as provas de vinho com almoço no Alentejo, as feiras de vinho regionais, e os festivais como o Douro Wine Fest ou o Vinho Verde Fest.
Estas experiências funcionam como campanhas vivas de promoção do vinho português. Cada visitante que pisa as vinhas, fala com o produtor e bebe diretamente da fonte leva consigo uma história — e, muitas vezes, uma garrafa para casa. É a prova de que o enoturismo e as curiosidades sobre vinho não são apenas entretenimento, mas ferramentas poderosas de internacionalização.
A Caminho de um Futuro Equilibrado e Sustentável
O ano de 2025 pode não ter trazido um boom nas exportações de vinho português, mas mostrou uma fileira resiliente, com visão estratégica e capacidade de adaptação. Entre ligeiras quedas de preço e crescimentos pontuais de volume, Portugal mantém-se firme no mapa vinícola mundial.
O desafio para os próximos anos será duplo: proteger o valor dos seus vinhos e reforçar a ligação emocional com os consumidores globais. Isso passa por inovação, comunicação e uma aposta clara na qualidade e autenticidade — marcas registadas do vinho português.
Como reza o velho ditado- “Quem planta uvas, colhe amigos”.
E é exatamente isso que Portugal continua a fazer: cultivar relações de confiança com quem aprecia um bom copo de vinho — seja num almoço, numa festa popular ou à mesa de um restaurante.
