As vendas de vinho tranquilo certificado no mercado nacional têm revelado uma evolução notável ao longo da última década. Segundo os dados mais recentes IVV, o valor total das vendas cresceu de 522 milhões de euros em 2016 para mais de 910 milhões em 2024 — um aumento superior a 74% em oito anos.
Apesar de um recuo acentuado em 2020, ano marcado pela pandemia e pelo encerramento temporário do canal Horeca, o setor demonstrou uma recuperação sólida e sustentada, atingindo em 2024 o valor mais elevado de toda a série histórica.
A análise regional mostra um domínio claro do Alentejo, que continua a ser a principal origem dos vinhos tranquilos certificados consumidos em Portugal.
Em 2024, esta região ultrapassou os 337 milhões de euros em vendas, representando mais de um terço do total nacional.
O crescimento do Alentejo deve-se à forte presença das suas marcas nas grandes superfícies e ao reconhecimento da consistência dos vinhos DOC e Regional, que se mantêm entre os mais procurados tanto por consumidores ocasionais como por apreciadores experientes.
Em segundo lugar surge o Douro, com cerca de 203 milhões de euros, consolidando-se como a segunda força do mercado.
A região beneficia de uma perceção de qualidade associada à viticultura de montanha e à imagem internacional do Porto, que tem impulsionado a valorização dos seus vinhos tranquilos.
O Minho, com 136,7 milhões de euros, ocupa o terceiro lugar e continua a ganhar espaço no segmento de vinhos brancos leves e aromáticos, sobretudo graças ao dinamismo dos produtores de Vinho Verde e à crescente valorização da frescura e da acidez típica da região.
Logo a seguir, a Península de Setúbal afirma-se como uma das regiões mais estáveis e em expansão, com 93,8 milhões de euros em 2024.
O crescimento constante desde 2021 reflete o sucesso de produtores que apostaram em castas autóctones e em projetos de enoturismo, reforçando a ligação entre a costa e a serra.
Regiões como Lisboa (38,5 milhões) e Tejo (36,6 milhões) mantêm uma presença consistente, com vinhos acessíveis e cada vez mais bem classificados, embora o ritmo de crescimento em 2025 esteja ligeiramente abaixo da média nacional.
Os números do primeiro semestre de 2025 confirmam a continuidade desta tendência positiva.
O total certificado nacional subiu 6,5% face ao mesmo período de 2024, passando de 366 para 390 milhões de euros. O Alentejo e o Douro voltaram a ser os principais motores desta evolução, com aumentos respetivos de 10,6% e 7,9%, enquanto o Minho manteve um desempenho estável. Também a Península de Setúbal registou um avanço expressivo, consolidando-se como uma região em franco crescimento.
Já em sentido contrário, algumas regiões intermédias, como Lisboa e Tejo, mostraram uma ligeira retração nas vendas do primeiro semestre de 2025, o que poderá estar relacionado com uma maior concorrência interna e a desaceleração da procura em certos canais de distribuição.
Ainda assim, o desempenho agregado do país indica um cenário de robustez e maturidade no mercado de vinhos certificados, em que as diferenças regionais se traduzem mais em especialização de perfis do que em desigualdade de resultados.
As regiões de menor expressão — como Beira Atlântico, Terras da Beira e Algarve — apresentam variações percentuais elevadas, reflexo de bases de produção e certificação mais pequenas.
No Algarve, por exemplo, as vendas aumentaram quase 30% no primeiro semestre de 2025, um sinal da vitalidade de novos projetos e da crescente aposta em vinhos de pequena escala com forte ligação ao território.
Em síntese, o mercado nacional de vinhos tranquilos certificados mostra um equilíbrio entre consolidação e crescimento. As grandes regiões mantêm a sua liderança, mas as menores ganham visibilidade e dinamismo.
O gráfico de evolução total entre 2016 e 2024 demonstra que, apesar das oscilações conjunturais, o setor encontra-se em trajetória ascendente, com uma tendência clara de valorização e reconhecimento do vinho português enquanto produto de qualidade e identidade.