Vinhos de Portugal: Ambições e Compromissos para 2030

No dia 28 de novembro, decorreu em Leiria o aguardado Fórum Anual Vinhos de Portugal 2024. Pelo segundo ano consecutivo, o evento teve lugar no Teatro José Lúcio da Silva, reunindo uma vasta audiência de produtores, especialistas e stakeholders do setor.

Gostaria de destacar que raramente presenciei uma organização de evento tão eficiente e bem estruturada. Tudo foi impecável, desde o processo de inscrição online até aos lembretes antecipados por e-mail, que incluíam todas as informações necessárias.

O fórum distinguiu-se pelos discursos de figuras de renome da indústria vinícola, debates relevantes sobre o futuro do setor e, ao final, uma cerimónia de entrega de prémios. Contudo, um dos momentos centrais do evento foi o discurso do Presidente da Vini Portugal, Engenheiro Frederico Falcão, que delineou um panorama do setor em 2024 e apresentou os objetivos estratégicos até 2030.

“Este ano de 2024 foi extraordinariamente desafiante, com uma conjugação de fatores que nos obrigou a olhar para o setor com pragmatismo e a redefinir estratégias– iniciou Falcão, estabelecendo o tom para o evento.

Este artigo é o primeiro de uma série dedicada ao Fórum 2024.


O Setor Vinícola Português em 2024

O setor vinícola português atravessa um dos anos mais desafiantes da sua história recente. Num cenário de turbulência global, mudanças nos padrões de consumo e dificuldades no mercado interno, o presidente da Vini Portugal, Frederico Falcão, sublinhou que 2024 foi “um ano extremamente atribulado, sem precedentes para muitos de nós.”


Um Plano Estratégico até 2030

Perante os desafios que se avizinham, a Vini Portugal apresentou um ambicioso plano estratégico até 2030. Este documento traça um caminho claro para fortalecer a posição do vinho português no mercado internacional.

“Pretendemos atingir 1.200 milhões de euros em exportações até 2030 e aumentar o preço médio para 3,19 euros por litro. É um objetivo exigente, mas essencial para garantir a sustentabilidade do setor” -afirmou Falcão.

A sustentabilidade ocupa um lugar central neste plano. A Vini Portugal compromete-se a certificar 40% das empresas vitivinícolas no Referencial Nacional de Sustentabilidade até ao final da década.

Queremos mostrar ao mundo que os vinhos portugueses são não apenas de alta qualidade, mas também sustentáveis,” frisou.


Mercados prioritários e investimento Estratégico

O plano também reflete uma mudança estratégica no foco de mercados. A organização decidiu reduzir o número de mercados-alvo de 22 para 15, concentrando investimentos em locais de maior impacto. Estados Unidos, Brasil e Canadá continuam a liderar como mercados prioritários, absorvendo quase metade do orçamento promocional.

“Estes três mercados são cruciais. É aqui que podemos criar uma presença mais sólida e gerar maior reconhecimento para a marca Portugal” – explicou o presidente.

Falcão também destacou a importância da colaboração com embaixadores do vinho, que desempenham um papel vital na promoção da marca em mercados-chave como os Estados Unidos e o Reino Unido. Contudo, reconheceu os desafios financeiros:

“Aumentar o número de embaixadores é uma meta desejável, mas depende de conseguirmos mais financiamento.”


Enoturismo: Uma Ligação emocional com o Vinho

Outro ponto forte da estratégia é o enoturismo, considerado uma ferramenta essencial para alavancar as exportações.

“O enoturismo cria uma ligação emocional entre os visitantes e os nossos vinhos. Quem nos visita leva Portugal no coração, e isso traduz-se em aumento das exportações para esses mercados” – destacou Falcão.

Esta abordagem é reforçada por dados que mostram uma forte correlação entre turistas de determinados países e o crescimento das exportações para essas nações.

“Estamos cada vez mais a trabalhar em parceria com o Turismo de Portugal para capitalizar esta sinergia…” – acrescentou.


Desafios e Oportunidades

Apesar do crescimento nas exportações em volume, o setor enfrenta pressões significativas para baixar preços devido ao excesso de vinho no mercado global.

“O problema não é apenas de Portugal; é mundial. Países como Austrália, Chile e África do Sul também estão a enfrentar um excedente de produção…” – disse Falcão.

Por outro lado, há oportunidades promissoras, como a aposta no enoturismo e nas redes sociais para atingir um público mais jovem e internacional. A Vini Portugal também identificou o Brasil como um mercado em ascensão e crucial para os próximos anos.

“No Brasil, não podemos apenas estar presentes; temos de investir estrategicamente em cidades como São Paulo, que representa 70% do consumo nacional…” – apontou Falcão.


Um Apelo à Unidade

Frederico Falcão concluiu o seu discurso com um apelo à unidade e ao esforço conjunto.

“Podem sempre contar com a Vini Portugal para abrir portas e apoiar as vossas iniciativas. Juntos, somos mais fortes e mais capazes de superar estes momentos difíceis…” – disse, reforçando o papel fundamental da organização na promoção do vinho português no mundo.

Como ficou claro durante o evento, muito já foi feito, mas ainda há um longo caminho a percorrer.

A concorrência no mundo da vinificação é intensa e, para avançar, será necessário um esforço contínuo e concertado.